Luiz Antônio Mello, um nome que ecoa na história da Rádio Fluminense, também conhecida como Maldita Fluminense, e na história do rádio e do rock no Brasil, faleceu em 30 de abril de 2025, deixando um vazio no jornalismo e na cultura brasileira.
Aos 70 anos, o visionário que transformou uma rádio local de Niterói em um marco do rock Brasil anos 80 foi responsável por lançar bandas que definiram gerações.
Este artigo mergulha na vida de Mello, na revolução da “Maldita” e no impacto que ambos tiveram na música e na contracultura brasileira.
A Trajetória de Luiz Antonio Mello: Um Jornalista Visionário
Início no Jornalismo
Nascido em Niterói, Rio de Janeiro, em 1955, Luiz Antônio Mello, ou LAM, como era conhecido, iniciou sua carreira aos 16 anos no Jornal de Icaraí.
Sua paixão por escrita e música o levou a veículos como O Fluminense, Jornal do Brasil e o lendário O Pasquim, onde aprimorou seu estilo irreverente e engajado.
Nos anos 70, Mello também trabalhou em rádios como Tupi e Cidade, mas foi na década seguinte que encontrou seu verdadeiro palco.
A Virada com a Rádio Fluminense
Em 1981, Mello aceitou o desafio de revitalizar a Rádio Fluminense, uma emissora à beira da falência.
Com Samuel Wainer Filho, ele reestruturou a programação, dando origem à “Maldita”, um projeto que romperia com as convenções da rádio comercial. Sua visão era clara: criar um espaço para o rock, a contracultura e a liberdade de expressão, em um Brasil que ainda sentia os ecos da ditadura militar.

A Revolução da Maldita Fluminense
Um Novo Conceito de Rádio
A Maldita Fluminense, inaugurada oficialmente como tal em 1º de março de 1982, trouxe inovações radicais.
Enquanto as rádios comerciais priorizavam MPB e pop internacional, a Maldita Fluminense focava no rock, tocando desde artistas “malditos” da música brasileira, como Raul Seixas e Mutantes, até bandas iniciantes do Rio de Janeiro.
A emissora também se destacou por sua equipe exclusivamente feminina de locutoras, como Selma Boas Novas e Mônica Venerável, desafiando o machismo da indústria.
Enfrentando Desafios
Operando com recursos limitados, a Rádio Fluminense enfrentou dificuldades financeiras e pressões externas.
Durante o regime militar, a emissora sofreu ameaças por sua postura ousada, como cobrir as Diretas Já e tocar músicas com mensagens políticas. Apesar disso, a “Maldita” conquistou uma base fiel de ouvintes, que enviava fitas demo e participava ativamente, criando uma comunidade vibrante.
Conexão com a Juventude
A Maldita Fluminense tornou-se a voz da juventude carioca, profundamente conectada ao Circo Voador, um espaço cultural que abrigava shows e eventos alternativos.
A rádio organizava concursos de bandas e eventos, como o “Domingo Maldito”, que revelava talentos locais. Essa proximidade com os ouvintes foi essencial para o sucesso da emissora, que se tornou um símbolo de resistência e criatividade.
Luiz Antonio Mello, Rádio Fluminense e Rock Brasil Anos 80
O Nascimento do BRock
O rock Brasil anos 80, ou BRock, ganhou muita força graças à Rádio Fluminense.
A emissora foi a primeira a tocar bandas como Blitz, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Legião Urbana, Titãs e Kid Abelha, muitas das quais enviavam fitas demo diretamente para Mello.
A Blitz, por exemplo, estourou com “Você Não Soube Me Amar” (1982) após ser promovida por “Maldita”, marcando o início de uma nova era para o rock nacional.
Bandas que definiram uma geração
Cada banda lançada pela Fluminense trouxe algo único.
Os Paralamas misturavam reggae e ska com letras inteligentes; o Barão Vermelho, liderado por Cazuza, trazia poesia e rebeldia; a Legião Urbana, de Renato Russo, capturou a angústia da juventude pós-ditadura.
A Maldita Fluminense além de tocar todas essas bandas, também as promovia em shows e entrevistas, ajudando a conquistar o Brasil.
Impacto no Rock in Rio
A influência da Fluminense se estendeu ao Rock in Rio de 1985.
A rádio fez uma enquete para escolher atrações internacionais, influenciando a escalada de nomes como Queen e AC/DC. Além disso, bandas nacionais como Paralamas e Barão Vermelho, impulsionadas pela “Maldita”, se apresentaram no festival, consolidando o BRock no cenário global.
Um Movimento Cultural
O rock Brasil anos 80 não era apenas música; era um movimento cultural de uma juventude que respirava novos ares de liberdade.
A Rádio Fluminense conectava músicos, poetas, artistas e ouvintes, criando uma cena vibrante no Rio de Janeiro.
O Circo Voador, o Morro da Urca e os estúdios da “Maldita” eram pontos de encontro para essa efervescência, que desafiavam as normas conservadoras da época.

O Legado de Luiz Antônio Mello
A Onda Maldita: O Livro
Em 1992, Luiz Antonio Mello publicou “A Onda Maldita: Como Nascem, Crescem e Morrem as Rádios de Rock” , um relato detalhado sobre a criação e os desafios da Rádio Fluminense.
O livro mistura memórias pessoais, histórias de bastidores e reflexões sobre o papel da rádio na cultura. Tornou-se uma referência para estudiosos da música brasileira e fãs de “Maldita”.
Infelizmente o livro está esgotado, mas pode ser encontrado em alguns sebos.
Do Livro ao Cinema
A história da “Maldita” ganhou nova vida com o filme Aumenta que é Rock’n’Roll (2024), dirigido por Tomás Portella e baseado no livro de Mello.
Com Johnny Massaro no papel de LAM, a longa retrata a criação da rádio em meio aos desafios dos anos 80, misturando fatos reais com elementos ficcionais. O filme reacendeu o interesse pela Maldita Fluminense, atraindo uma nova geração de fãs.
Outros Projetos de Mello
Após a Rádio Fluminense, Luiz Antônio Mello continuou ativo no jornalismo e na música.
Em 2021, lançou a Rádio LAM online, uma homenagem à “Maldita” que tocava rock e promovia artistas independentes. Ele também foi editor do jornal A Tribuna em Niterói até sua morte, mantendo seu compromisso com a comunicação e a cultura.
A Morte de Luiz Antônio Mello e o Impacto no Brasil
Uma Perda para o Jornalismo e a Música
A morte de Luiz Antônio Mello em 30 de abril de 2025, aos 70 anos, chocou o Brasil.
A causa não foi divulgada amplamente, mas a notícia gerou comoção em veículos como O Globo, Folha de S.Paulo e Rolling Stone Brasil. Artistas como Herbert Vianna, dos Paralamas e Lobão prestaram homenagens, destacando a importância de Mello para o rock nacional.
Tributos à Maldita
A Maldita Fluminense voltou aos holofotes após a morte de Mello.
Fãs compartilharam memórias nas redes sociais, relembrando programas como “Maldita Madrugada” e a emoção de ouvir suas bandas favoritas pela primeira vez.
Posts em plataformas como X demonstraram a fidelidade da rádio, com hashtags como #MalditaFM e #LuizAntonioMello.
Por que a Maldita Fluminense ainda importa?
Um Símbolo de Resistência
A Rádio Fluminense representava mais do que música; era um ato de resistência contra a censura, o comercialismo e o conformismo.
Em um Brasil marcado pela ditadura, a “Maldita” deu voz à juventude, promovendo liberdade de expressão e diversidade musical.
Sua equipe feminina de locutoras, por exemplo, desafiou estereótipos e abriu portas para mulheres na rádio.
Inspiração para Novas Gerações
A história da Maldita Fluminense continua inspirando músicos, jornalistas e radialistas.
Rádios independentes, webradios e podcasts modernos, citam a Maldita Fluminense como influência.
O filme Aumenta que é Rock’n’Roll e o livro A Onda Maldita garantem que o legado de Mello alcance novos públicos.
A Relevância do Rock Brasil Anos 80
O rock Brasil anos 80 moldou a identidade cultural do país, com letras que abordavam amor, política e existencialismo.
Bandas como Legião Urbana e Titãs ainda são ouvidas por milhões, e a Rádio Fluminense foi o início desse movimento.
Relembrar a “Maldita” é celebrar uma era de criatividade e rebeldia.
O Eterno Som da Maldita
Luiz Antônio Mello e a Rádio Fluminense transformaram o rock Brasil anos 80, dando vida a um movimento que ecoa até hoje.
A “Maldita” não era apenas uma emissora; era um espaço de sonhos, resistência e paixão pela música.
Com sua morte, Mello deixou um legado que vive nas canções, nas memórias e na história do Brasil.
Qual é a sua lembrança da Maldita Fluminense?

Amante de livros, músicas e filmes desde que me conheço por gente.
Livreira há muitos anos.
Criadora e redatora chefe do Meu Momento Cultural.
A minha vontade de dividir essa paixão, me trouxe até aqui.
Excelente artigo!
Que saudade dessa fase do rock nacional. A Rádio Fluminense foi mesmo revolucionária! ❤️👏