José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, é uma figura que parece extraída de um romance épico. Guerrilheiro, prisioneiro político, líder humilde e pensador, Mujica transcende a política, inspirando leitores com sua simplicidade e sabedoria.
Vamos conhecer sua trajetória e quatro obras que capturam sua essência: Chomsky & Mujica: Sobrevivendo ao Século XXI (Editora Civilização Brasileira), Palavras para Depois: Conversas com Pepe Mujica (Editora Coragem), Uma Ovelha Negra no Poder (Editora Difel) e Memórias do Calabouço (Editora Rua do Sabão).
A Jornada de Pepe Mujica
José Alberto Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Uruguai, em uma família de classe média baixa. Filho de Demetrio Mujica, agricultor de origem basca, e Lucy Cordano, de ascendência italiana, cresceu em um bairro simples, absorvendo valores de trabalho e solidariedade. Na adolescência, praticou ciclismo, mas logo se envolveu com ideias socialistas, influenciadas pelo contexto político do Uruguai pós-Segunda Guerra.
Na década de 1960, integrou o Movimento de Libertação Nacional (Tupamaros), uma guerrilha urbana inspirada na Revolução Cubana. Os Tupamaros realizaram assaltos e sequestros para redistribuir recursos e combater desigualdades. Mujica participou de ações arriscadas, mas reconheceria mais tarde os erros de romantizar a luta armada. Ferido e preso várias vezes, vivenciou o auge da repressão com o golpe militar de 1973, que instaurou uma ditadura no Uruguai.
De 1972 a 1985, Mujica passou mais de 13 anos preso, grande parte em solitária, em locais como Punta Carretas e o Poço de Banfield. Sob torturas físicas e psicológicas, sem livros ou contato humano, encontrado refúgio na introspecção, dialogando com ratos e formigas para manter a sanidade. Esse período, descrito por ele como um “mergulho na alma”, forjou sua filosofia de simplicidade e resiliência. Libertado em 1985, com a redemocratização, continuou sua luta pelas vias democráticas.
Filiado ao Movimento de Participação Popular (MPP), dentro da Frente Ampla, Mujica tornou-se deputado, senador e ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca (2005-2008), focando em pequenos produtores. Em 2009, aos 74 anos, foi eleito presidente, governando de 2010 a 2015. Seu mandato trouxe reformas progressistas: legalização da maconha, descriminalização do aborto e casamento igualitário. Globalmente, destacou-se por doar 70% de seu salário, viver em uma chácara modesta com sua esposa, Lucía Topolansky, e dirigir um Fusca 1987. Com destaque para seu discurso na ONU em 2013, criticando o consumismo, consolidando-o como ícone atual.
Após a presidência, foi senador até 2020, aposentando-se por problemas de saúde. Diagnosticado com câncer de esôfago, faleceu em 13 de maio de 2025, aos 89 anos, deixando um legado de coerência e humanismo. Sua vida, cheia de contradições e aprendizados, é uma narrativa literária que inspira reflexões sobre liberdade e solidariedade.
Mujica e a Literatura
A trajetória de Mujica ressoa na literatura por suas especificidades e profundidade. Suas reflexões, como “Não sou pobre, sou sóbrio, leve de bagagem” tornaram-se eternas.
Livros sobre Mujica oferecem narrativas envolventes, repletas de lições.
Abaixo, mostramos quatro obras que exploram sua história.
Chomsky & Mujica: Sobrevivendo ao Século XXI (Editora Civilização Brasileira)
Organizado por Saúl Alvídrez e publicado em 2024, este livro reúne diálogos entre Mujica e Noam Chomsky, dois grandes ícones progressistas.
A obra aborda as mudanças climáticas, a corrupção, o populismo e o capitalismo, em um tom reflexivo e acessível. Chomsky oferece análises baseadas em dados, enquanto Mujica aporta sabedoria prática, surpreendendo pela clareza. Por exemplo, sua visão sobre a crise ambiental enfatiza a necessidade de “viver com menos para que todos tenham”.
Leitores elogiaram a fluidez e a relevância, com avaliações destacando a sinergia entre os autores: “Uma aula de pensamento crítico!”
Algumas menções críticas a eventos recentes, como a eleição de Trump, podem datar o texto. Com cerca de 200 páginas, é ideal para quem busca reflexões globais com uma perspectiva humanista, especialmente leitores de filosofia política e literatura engajados.
“A democracia não é só votar, é liberdade construir todos os dias.” – Pepe Mujica
Palavras para Depois: Conversas com Pepe Mujica (Editora Coragem)
Escrito por Fabián Restivo e publicado em 2024, este livro resultado de dez dias de conversas com Mujica em sua chácara em Rincón del Cerro. Explora temas como amor, natureza, militância e juventude, capturando sua humanidade.
Restivo registra momentos de indignação, como quando Mujica critica o consumismo, e silêncios regados a chimarrão, que revelam sua introspecção. Olívio Dutra, na introdução, chama o texto de “um tição aceso” para reacender esperanças.
Leitores elogiam a sensibilidade, comparando-o a um diário íntimo: “Parece que estamos na chácara com ele.” Alguns apontam a falta de estrutura narrativa, mas a obra, com cerca de 150 páginas, brilha pela emoção.
É perfeito para quem busca inspiração e uma conexão pessoal com as ideias de Mujica, especialmente leitores de literatura reflexiva.
“Não sou pobre, sou sóbrio, leve de bagagem.” – Pepe Mujica
Uma Ovelha Negra no Poder (Editora Difel)
Escrito por Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, esta biografia oficial, publicada em 2024, baseia-se em 20 anos de entrevistas. Com cerca de 300 páginas, detalha a trajetória de Mujica, da guerrilha à presidência, destacando sua exclusão aos protocolos do poder.
O livro revela bastidores, como encontros com Obama, Lula e o Papa Francisco, e episódios curiosos, como Mujica conversando com jornalistas enquanto tomava seu chimarrão.
Leitores elogiam a leitura fluida e a profundidade: “Vale cada ‘tempo de vida’ lendo!” Algumas críticas a uma narrativa não linear, que alterna períodos da vida de Mujica, e uma polêmica citação sobre o mensalão, negada por ele, mas mantida pelos autores.
Essencial para entender o “ícone latino-americano”, é indicado para leitores de biografias, políticas e literatura histórica.
“Eu não sou pobre. Sou austero, porque tenho minha liberdade.” – Pepe Mujica
Memórias do Calabouço (Editora Rua do Sabão)
Escrito por Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro, com edição de Mujica e prefácio de Eduardo Galeano, este livro relata os 12 anos de prisão de Mujica durante a ditadura no Uruguai.
Publicado pela Editora Rua do Sabão, descreve condições desumanas, torturas e resistência de prisioneiros, que usavam códigos para se comunicar, como batidas nas paredes.
Com cerca de 250 páginas, inspirou o filme Uma Noite de 12 Anos e é elogiado por sua força emocional: “História real que mostra a que ponto pode chegar o ser humano.”
Leitores destacam a escrita crua e o impacto das políticas, mas alertam para a densidade do texto. Recomendado para quem busca compreender a resiliência de Mujica e a história latino-americana, é uma leitura marcante para fãs de literatura de depoimentos reais.
“Sobrevivemos porque lutamos, mesmo quando só nos restava a mente.” – Pepe Mujica
Por que Mujica Ressoa na Literatura?
Mujica é um narrador de sua história, com frases que viram referências e reflexões que inspiram.
Sua crítica ao consumismo, defesa da educação e do meio ambiente, o tornaram uma figura literária. As obras selecionadas oferecem perspectivas complementares: Chomsky & Mujica traz debates globais, Palavras para Depois revela sua humanidade, Uma Ovelha Negra no Poder detalha sua política, e Memórias do Calabouço expõe sua resistência. Juntas, formam um mosaico de um homem que viveu intensamente.
Conclusão
Pepe Mujica deixou um legado que inspira com sua simplicidade, coragem e sabedoria.
As obras abordadas capturam sua essência, convidando à reflexão sobre liberdade e felicidade.
Qual aspecto da história de Mujica mais te inspira?
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Amante de livros, músicas e filmes desde que me conheço por gente.
Livreira há muitos anos.
Criadora e redatora chefe do Meu Momento Cultural.
A minha vontade de dividir essa paixão, me trouxe até aqui.
Excelente artigo. Parabéns